Desafogar a atual situação complexa da saúde pública municipal e garantir seguramente o funcionamento mínimo do Pronto Socorro são os grandes alvos do prefeito Emanuel Pinheiro, que determinou um choque de gestão com a instauração do Comitê de Crise mediante o decreto municipal, nº 6.405/2017. Nesta sexta-feira (10), o gestor anunciou uma série de medidas emergenciais decisivas, em virtude dos atrasos nos repasses mensais do governo do Estado, que já ultrapassam pouco mais de um ano.
“Temos tentado ser compreensivos com o delicado momento vivido pelo governo do Estado, mas o Pronto Socorro de Cuiabá chegou ao seu limite. A atual conjuntura é ainda mais drástica mediante as dezenas de unidades de saúde do interior que fecharam suas portas, limitando a oferta da saúde pública nos demais municípios. Recentemente, os hospitais regionais de Cáceres, Sorriso, Sinop e Pontes e Lacerda interromperam parte de suas atividades, afirmando estarem inaptos para receber novos pacientes. A Santa Casa de Rondonópolis também fechou sua UTI Pediátrica, agravando ainda mais a demanda do PS, que automática e naturalmente recebeu de sobremaneira todas essas demandas reprimidas. A nossa estrutura não consegue comportar corretamente este grande fluxo, considerando que possuímos 271 leitos e atualmente temos uma lotação referente a 346 pacientes, sendo que deste número, 144 se encontram nos corredores do hospital. Nós precisamos do cumprimento dos compromissos firmados pelo Estado com a Prefeitura de Cuiabá, no que tange os repasses ao PS, que ultrapassam o montante de R$ 52 milhões. Pensando na integridade do nosso serviço, adotamos um choque de gestão de enfrentamento desta que é nossa maior angústia”, afirmou Pinheiro.
Dentre as medidas determinadas na normativa que estabelece o Comitê de Saúde Pública Municipal, está a concentração do atendimento do Pronto Socorro somente às situações de urgência e emergência. Tal postura implicou também na suspensão de cirurgias eletivas, priorizando os casos gravíssimos que demandam atuação imediata das equipes clínicas que operam na unidade. Além disso, uma cuidadosa triagem será feita pelos profissionais da saúde, a fim de garantir com segurança e respeito ao paciente o seu retorno para o seu município de origem.
Para o chefe do Executivo, as decisões são em virtude do aumento expressivo no número de pacientes internados no hospital, que contribuiu para o grau de complexidade de atuação do serviço público de saúde ofertado pela unidade. “O percentual de acréscimo da nossa demanda, desde a interrupção dos repasses do governo estadual – incluindo pessoas de outras cidades – corresponde de 30% a 50% acima do limite máximo. Desde o início desta gestão estamos fazendo frequentes alertas ao Estado sobre a gravidade do problema, considerando que a Capital tem sustentando toda a saúde de Mato Grosso. Além de desempenhar todo o nosso trabalho, também estamos exercendo as atribuições que correspondem ao governo. Mensalmente, o hospital atende 1.291 pacientes, sendo 65% deles oriundos de outras cidades, enquanto apenas 35% se referem a habitantes da baixada cuiabana. Estamos diante de um momento de extrema fragilidade e essas medidas são uma resposta imediata a fim de buscar a estabilidade do serviço municipal”, pontuou Emanuel Pinheiro.
Buscando justamente a estabilidade no atendimento da saúde pública municipal, a Prefeitura tem dedicado seus esforços para a construção de Unidades Básicas de Saúde (UBS). Com seis obras já lançadas em regiões estratégicas da Capital, outras 10 serão iniciadas até o fim deste ano. Segundo o prefeito, o investimento na atenção primária visa coibir consequências graves como a vivenciada atualmente pelo PS, atuando de forma preventiva nas comunidades.
“A atenção básica é fundamental para garantir uma qualidade de vida melhor para o cidadão cuiabano. Esta concentração nesta modalidade de serviço vai evitar diagnósticos tardios e irreversíveis, além de consequências que poderiam facilmente ser inibidas. Nosso objetivo é trabalhar a saúde municipal visando a prevenção, e quando essas 16 unidades estiverem concluídas até a segunda metade do primeiro semestre de 2018, teremos 40 equipes de saúde da família atuando. Cremos que uma população bem cuidada logo no princípio não se transformará em uma sociedade enferma, que padece em macas e corredores de hospital. É pensando dessa forma que em breve também entregaremos a UPA Verdão, que está com mais de 80% de sua estrutura pronta. Em um prazo de 60 a 90 dias devolveremos este espaço ao povo cuiabano, completamente equipado para atender a região devidamente”, salientou o gestor .
A criação do Comitê de Crise e suas respectivas medidas emergenciais também vão ao encontro das demandas do Sindicato Médico. De acordo com a presidente da instituição, Evelyn Bidigaray, a ausência dos repasses estaduais à Capital, aos demais municípios e aos hospitais filantrópicos tem prejudicado todo o estado, permitindo que vidas sofram sem o atendimento adequado.
“É fundamental a criação desse comitê com pessoas comprometidas e que vão estudar a melhor maneira para resolver essa gravíssima situação em que nos encontramos. Este não é um problema apenas de Cuiabá, ele envolve todo o Mato Grosso, que tem sido negligenciado pela falta dos recursos obrigatórios do governo. A sobrecarga no Pronto Socorro tem sido um fardo pesado, principalmente mediante a ausência dos leitos de retaguarda, que não estão liberados justamente pelo não pagamento às unidades filantrópicas. Precisamos solucionar este entrave, atualizar os valores defasados - que hoje também não absorvem toda a demanda existente -, criando uma dinâmica de união de forças que seja genuína e conjunta, para que possamos garantir uma qualidade de vida adequada através do atendimento ao paciente que conta com a saúde pública”, concluiu a médica.
Também participaram do anúncio o secretário-adjunto de Saúde, Milton Corrêa da Costa; o vereador Paulo Araújo - representando a Comissão de Saúde da Câmara Municipal; o procurador-geral do Município, Nestor Fidélis; o secretário municipal de Governo Carlos Roberto da Costa; Álvaro Varela, diretor Administrativo do Hospital São Benedito e Huark Correia, diretor geral da unidade.